terça-feira, 2 de junho de 2015

Vergonha Literária?

Muitas vezes durante minha vida literária me deparo com um mesmo sentimento: vergonha.
Vergonha de ter lido. Vergonha de ter gostado. Vergonha de não ter lido. Vergonha de não ter gostado.
Quando as pessoas falavam sobre Orgulho e Preconceito, eu me sentia mal. Envergonhada. Como assim eu sou a única que nunca leu isso? Quando começaram a falar mal de Aristóteles e Dante Descobrem os Segredos do Universo, eu me senti envergonhada. Por que eu gostei desse livro? Tive que reler para ter certeza. Quando as pessoas começaram a dizer que amaram Divergente e que o haviam favoritado, eu também senti vergonha. Por que eu não gostei? E quando as pessoas começaram a falar que NUNCA leriam leriam Crepúsculo, eu senti vergonha. Por que eu li?
E, não sei vocês, mas vergonha é um dos últimos sentimentos que se deve sentir a respeito de livros. Ninguém nunca deveria se sentir envergonhado de ter lido ou deixado de ler alguma coisa. Mesmo aqueles livros que você leu e gostou, e agora todo mundo está te dizendo que são terríveis. Para alguma coisa eles valeram a pena.
Mas acho que o pior desses sentimentos, pelo menos para mim, é a vergonha de não ter lido.
Sentir a obrigação de ler alguma coisa sempre tem uma implicação. Você já chega no livro com expectativas. As vezes são expectativas boas: todos falam bem do livro, você acha que vai ser o máximo, que vai amar tanto quanto os outros amaram e que finalmente vai conseguir ser incluída nos papos!
E, as vezes, são expectativas ruins: "nossa, eu não acredito que tenho que ler esse livro, não estou com a mínima vontade, mas já que todo mundo está lendo, ou já que todo mundo fala que eu TENHO que ler..."
Essas expectativas geram um certo pré-conceito do que o livro vai ser, e isso influencia a leitura. Ou você vai com expectativas demais e acaba se decepcionando (meu caso com Divergente), ou você vai esperando não gostar e aí fica procurando com uma lupa pelas falhas naquele livro (meu caso com O Morro dos Ventos Uivantes).
A leitura nunca deveria ser assim. Não deveria ser obrigatória, e nem uma pressão social. Não deveria gerar sentimentos de pressa antes mesmo de ser lida. Você não deveria começar um livro já querendo que ele acabasse, só pra poder colocar nos seus lidos e dizer por aí que já leu. Nem tampouco deveria ler porque alguém está te dizendo que não ter lido aquilo é uma vergonha. "Como ASSIM você nunca leu Machado de Assis?"
Mas, infelizmente, é o que acontece.
Eu não li Orgulho e Preconceito porque me interessei pela estória ou tinha alguma curiosidade em particular pela escrita da Jane Austen. Eu li pois todos me diziam para ler. Que era um clássico. Necessário. Absolutamente indispensável.
Eu li para dizer que já tinha lido.
Por que fazemos isso? Porque temos vergonha de não termos lido algumas coisas, e porque insistimos em ler algumas outras só por orgulho?
Mesmo que ninguém te imponha uma necessidade de ler certa coisa, sempre existe aquela vontade de pertencer na conversa, de entender referências, de bater no peito e dizer: Eu já li.
E não estou dizendo que essas vontades são ruins, e nem mesmo que você não deva escutar recomendações enfáticas de amigos ou familiares. Eu mesma já li muitos livros só porque eles eram famosos, ou para entender conversas, ou para ostentar: Já li.
Mas quando essa vontade vem com uma vergonha, uma pressão, deve-se parar e pensar realmente se o que você está fazendo vale a pena. Se você está começando um livro já esperando não gostar dele, porque está lendo? A vida é muito curta, e existem muitos livros que você VAI gostar por aí para perder tempo com "obrigações de leitura".
A não ser que seja um livro pra faculdade. Aí, meu amigo... Não tem jeito.