domingo, 2 de junho de 2013

Resenha: Divergente

de Veronica Roth

Eu comecei a ler esse livro sem saber de nada, e acho que foi melhor, mas se você quiser saber algo, aqui vai:
Divergente é uma distopia (que surpresa) na qual a sociedade é dividida em cinco facções: Abnegação (para os altruístas), Audácia (para os corajosos), Franqueza (para os honestos), Amizade (para os pacíficos), e Erudição (para os inteligentes).
Todos crescem de acordo com os costumes das facções em que nascem, mas aos 16 anos, todos os jovens passam por um teste de aptidão, onde eles descobrem em que facção eles se encaixam melhor. Logo depois, eles escolhem em qual facção querem passar o resto de suas vidas, seja ela a apontada pelo teste de aptidão ou não. A partir daí, eles passam por um programa de iniciação, para saberem se são realmente aptos a estarem naquele lugar, e os que não passam nesse programa viram os "sem facção". Os sem facção viram garis, motoristas de ônibus, e outras coisas do gênero, e ganham por isso, mas o livro deixa bem claro que não ganham o suficiente para viver decentemente.
A nossa personagem principal, Beatrice (ou Tris), ao fazer o teste de aptidão, consegue um resultado estranho, e deve esconder isso a qualquer custo.
Ok. Muito bem. Vamos às opiniões.
Logo de cara torci o nariz: narração no presente. Estilo "levanto e pego" e não "levantei e peguei". Isso sempre me deixa irritada, mas depois de um tempo de leitura eu fui capaz de ignorar a escrita.
O livro é muito interessante e te deixa com vontade de ler o próximo capítulo. Os personagens são interessantes e bem construídos, com personalidades claras. Você torce pela personagem principal e por seus amigos, e passa a odiar seus inimigos e torcer pela morte deles (desculpa, mas é verdade. MORRAM.). Pessoas que você gostava mudam de lado. Pessoas morrem. Pessoas são manipuladas. Todas aquelas coisas que a gente já conhece.
O grande problema com esse livro é a sociedade em si.
Vamos aos problemas da sociedade, galera?
Primeiro: eles vivem no que seria o futuro de Chicago, e o lugar tem cercas (ou muros?) em volta, supostamente os protegendo do que está do lado de fora, mas o QUÊ exatamente está do lado de fora nunca é mencionado. Ninguém parece ter curiosidade para saber o que existe do outro lado do muro. Não sabemos se as pessoas não saem porque existem pessoas perigosas lá, ou porque a água inundou tudo, ou porque a  terra está coberta por plantas venenosas, ou porque os ratos mutantes simplesmente dominaram o resto do mundo. Sei que (ou espero que) isso vai ser explicado nos próximos livros, mas o que me incomoda é o fato de que ninguém parece se importar, ou sequer pensar, no mundo do lado de fora.
Segundo: o que acontece com os sem facção que tem filhos? Não existe menção de nascidos sem facção fazendo o teste de aptidão ou escolhendo uma facção, então aparentemente, os filhos continuam sem facção, e seus filhos também, e assim por diante. Pelo que o livro dá a entender, essa sociedade na qual Tris vive não é nova. É mais velha do que pelo menos duas gerações, já que as pessoas mais velhas que aparecem já nasceram inseridas nela. E se os sem facção continuam aumentando e aumentando de número, e não ganhando o suficiente para viver, porque não houve nenhum tipo de rebelião da parte deles? Nem que fosse uma pequena greve, onde todos os veículos parariam de funcionar, e as ruas não seriam limpas? Isso me parece extremamente inverossímil.
Terceiro: dividir as pessoas em facções de acordo com suas características? Sério? Se eu sou erudita eu não posso ser audaciosa? Se eu sou honesta não posso ser pacífica? E eu sei que quem já leu vai dizer "mas o livro fala sobre isso! A Tris se pergunta isso, e o Quatro também!". Gente, estou falando dos problemas da construção da sociedade, e não da estória. A organização da sociedade parte da premissa de que todos os humanos possuem uma e apenas UMA característica que os define, e que todas as outras, embora talvez presentes, são mais fracas, e se você tem mais de uma característica (de apenas cinco. CINCO) forte você é uma aberração que tem que esconder sua personalidade. Tem algo obviamente errado com isso.
Quatro (esse problema já apareceu, mas agora ele volta por motivos diferentes): COMO ESSA SOCIEDADE DUROU TANTO TEMPO? Por que não houve ainda nenhuma rebelião até o presente momento? O fato de que uma organização tão claramente falha tenha durado mais do que alguns anos não é apenas improvável, é impossível. Os humanos não estão sofrendo nenhum tipo de lavagem cerebral, que eu saiba, para que acreditem piamente naquela divisão. Eles obviamente ainda tem seu livre arbítrio. Como é possível se conformar por tanto tempo com algo que não é saudável, e que não daria certo, efetivamente? E agora sim chegamos a um dos problemas com a escrita: a autora claramente força o mundo a dar certo, força a sociedade a existir daquela forma. Eu acho que teria aceitado melhor se fosse um mundo... diferente, que nunca tivesse sido o nosso mundo em primeiro lugar, um universo alternativo ao invés do nosso futuro. Mas o livro acontece no futuro.
Quinto: Como a sociedade chega a tal ponto? Como nós partimos do que temos agora para algo que me parece completamente... Antigo? Uma ideia arcaica, que talvez tivéssemos nos nossos primeiros anos na Terra, a ideia de dividir os humanos ainda mais, ao invés de os aproximar e possivelmente os tornar iguais? Eu sei que é uma ideia interessante, e contrabalanceia a ideia da maioria das distopias, de que todos os humanos devem ser iguais, mas... Me desculpe, Veronica Roth. Sua sociedade não foi bem construída.
E ei, quem sabe talvez você explique tudo isso nos próximos livros? Quem sabe eu tenha a minha boca calada por você? Realmente espero que isso aconteça.
Eu sei que falei muitas coisas negativas sobre o livro, mas a estória, o que acontece no livro em si, é boa. Enquanto eu o lia, eu não sabia direito o que estava me incomodando tanto, de forma que o achei agradável e bem envolvente. Sério, não julguem o livro pela sociedade na qual ele se passa.
Tá, talvez julguem um pouquinho. Pensar sobre o que você está lendo nunca é ruim.
A minha resenha termina aqui, mas eu ainda tenho uma coisa que quero tirar do meu peito. Ela vai estar em amarelo, pois é SPOILER.
É realmente necessário que ocorram todas aquelas mortes? Os pais de Tris realmente precisam morrer, os dois na mesma noite? Me parece que a autora quis mostrar os "horrores da guerra" de uma forma forçada demais, e ei, agora a personagem principal está livre de laços familiares que a prendam à sociedade, exceto por seu irmão! Seria engraçado se não fosse triste. É como uma nova maneira de não ter que lidar com SDPD (Síndrome dos Pais Desaparecidos). Não foi legal, Veronica. Não foi legal.

É isso. Acho que já desabafei o suficiente.

Beijos, etc.

2 comentários:

  1. Oi.
    Gostei do seu blog e da sua resenha.
    Quando fui adicionar esse livro no Skoob vi seu blog por lá e resolvi dar uma passada.
    Também tenho um blog literario. :)
    Me segue? * estou te seguindo *

    http://elaeseuslivros.blogspot.com.br

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    1. Oi!
      Adoro blogs literários, estou feliz que você tenha me achado.
      Estou seguindo!
      Beijos

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