segunda-feira, 6 de maio de 2013

Resenha: 1984

de George Orwell

Vou confessar que não lembro tão bem desse livro pra fazer uma resenha decente sobre ele.
Vou confessar ainda que esse livro é difícil de se resenhar.
A sociedade que George Orwell cria não é impossível e nem ao menos improvável. Em alguns momentos, sinto até que estamos à beira dela.
Aqui, todos são vigiados o tempo inteiro por câmeras que vem de todos os lados, todos são vigiados pelo Grande Irmão. Todos os seus movimentos são condicionados pela sociedade e qualquer deslize pode provocar o seu repentino sumiço.
Pra começar, o país está sempre em guerra com a Lestásia. A população vive no medo constante de que alguma coisa terrível vá acontecer nessa guerra e esse medo os põe na linha, de certa forma. O medo de que a Eurásia ganhe.
Eu disse Lestásia? Não. Eles estão em guerra com a Eurásia. A Lestásia é uma aliada.
A manipulação da mídia é gritante nesse livro. Todos estão prontos para acreditar em tudo o que o Big Brother diz, sobre qualquer coisa. As palavras estão sendo desconstruídas e expremidas uma na outra para que a comunicação fique cada vez mais rápida (ou é isso o que eles dizem). Na verdade, a desconstrução de palavras é apenas uma forma de impedir ou retardar o pensamento. Se a palavra paz não existe, não podemos saber o que a paz é, pois não sabemos como expressá-la. O pensamento se simplifica a medida que o vocabulário diminui.
Nesse contexto, temos Winston. E é aqui que começam meus problemas com o livro.
Winston é o personagem principal, típico (?) trabalhador de meia idade, magro e de personalidade fraca. Um belo dia, quando a sociedade se encontra em guerra com a Lestásia (a guerra sempre foi contra a Lestásia, não sei porque disse Eurásia antes), Winston recebe um bilhete de uma mulher chamada Julia. Eles se apaixonam, mas a paixão é proibida, então eles se encontram escondidos.
Ok, aqui vai o problema: Os personagens são simplesmente ou vazios (Winston) ou impossíveis (Julia). A Julia, principalmente, me deixa extremamente inquieta, pois ela não pode existir. Ela é muito mais jovem que Winston, e já nasceu inserida nessa sociedade mudada. Ela nunca conheceu nada diferente, mas simplesmente decidiu que seria contra o mundo em que vive. E do nada, ela tem inúmeros modos de comunicação que as câmeras não podem perceber, ela tem inúmeros esconderijos para se encontrar com Winston e ela tem inúmeras formas de conseguir alimento. Para uma menina nova que me pareceu bem inconsequente, ela sabe de coisas demais para não ter sido pega ainda. A Julia é uma personagem extremamente inverossímil, o que deixa apenas a explicação mais óbvia: ela é um plot device. Um metódo pelo qual o escritor ajuda o personagem principal a se revoltar e a chegar no ponto da estória que ele deseja criar.
É claro que muitos autores fazem isso, mas a sutileza com que você cria esses personagens e os introduz na estória muda completamente o modo como os leitores percebem seu livro, e Geroge não soube fazer isso muito bem.
Minha opinião final sobre o livro é que a premissa é maravilhosamente perturbadora (apesar de que eu gostaria que o escritor tivesse explorado mais a sociedade que criou e a explicado mais profundamente), mas os personagens deixam muito a desejar.

Deixei de mencionar muitas coisas, como os proletas, O'Brien, e a terceira parte do livro, de propósito. Não quero detalhar o enredo para ninguém que ainda queira ler o livro, o que eu altamente recomendo, apesar dos (poucos) pesares.

Beijos, etc.

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