terça-feira, 14 de maio de 2013

Resenha: Maze Runner #1 - The Maze Runner

de James Dashner

Traduzido para "Correr ou Morrer" no Brasil, The Maze Runner conta a estória de um garoto que acorda um dia em um elevador escuro, sem saber como foi parar lá, e sem lembrar de nada que diz respeito à sua vida anterior, a não ser seu nome. Thomas.
Quando as portas se abrem, ele se vê de frente com vários meninos, todos adolescentes, olhando para ele. E é aí que as perguntas começam. Onde eu estou? Quem são vocês? O que eu estou fazendo aqui? Por que não consigo me lembrar de nada?
Os meninos, desde o início, se mostram indispostos a responder a maioria das perguntas que Thomas faz, ou porque estão cansados de responder as mesmas coisas para todos os meninos que chegam ali (Thomas logo descobre que um menino novo chega ali todo mês) ou porque não sabem as respostas. Thomas é informado de que está em um lugar chamado Glade, que traduz pra Clareira, que é como eles colocaram no livro em português. A Clareira é um lugar enorme, grande o suficiente para que os meninos mantenham uma plantação, um curral, um dormitório pequeno e, atrás de algumas árvores, um cemitério, além de outras coisas. Esse lugar é cercado por paredes gigantes de pedra, com uma abertura de cada lado, que se fecham à noite. Do lado de fora dessa clareira, um labirinto, que os meninos supostamente precisam resolver para sair dali.
Ora, isso parece relativamente fácil, né? Resolver um labirinto seria simples o suficiente, mas Thomas logo descobre a existência dos Grievers (não sei como traduziram isso), "monstros" que vivem do lado de fora da Glade e sempre aparecem à noite. Além disso, as paredes do labirinto parecem mudar a cada noite, o que não facilita o trabalho desses meninos, que se autodenominam "gladers" (acho que no Brasil, ficaram sendo os "clareanos") e que usam tantas gírias criadas por eles que Thomas tem dificuldade de entender o que cada um diz, no início.
Ok, vamos em frente.
O livro é narrado em terceira pessoa, mas do ponto de vista de Thomas, de forma que nós só sabemos o que Thomas sabe, e vamos descobrindo tudo junto com ele. O livro flui de uma maneira muito boa, sem blablablá desnecessário ou cansativo, e te permite entrar completamente na estória logo de cara.
Desde o primeiro capítulo nós queremos saber o que aconteceu. Queremos respostas, e ficamos frustrados ao não recebê-las, mas de uma forma boa, gostosa, que dá prazer em continuar lendo.
Todo capítulo é uma tensão. Praticamente todos os capítulos acabam em um cliffhanger, e fica difícil parar de ler.
Eu adorei a escrita do James. Adorei a forma como ele nos prende na leitura e como desenvolve a estória, que também é ótima e muito criativa, do meu ponto de vista.
O único ponto negativo foi a questão da personalidade dos personagens. Todos eles tem suas características próprias e bem divididas, ou seja, a personalidade de um não se torna a personalidade de outro quando conveniente, e isso é ótimo. Mas o que eu notei foi que em algumas partes, um personagem que se mostrava contra algo o tempo todo, se mostra a favor na próxima cena, e isso me incomodou. Nada que me tire o foco do livro, no entando, e minha mente logo arranjou uma explicação pra isso: os personagens provavelmente tem motivos pra mudar de ideia, ou alguém conversou com eles e os convenceu, e nós só não sabemos ou não entendemos pois estamos vendo tudo através de Thomas.
Ainda assim, é um ponto negativo.
De forma geral, o livro é ótimo, cheio de reviravoltas, e mal posso esperar para começar o segundo. Só não comecei ainda pois queria fazer a resenha desse primeiro, para não confundir as estórias.
The Maze Runner se junta à pilha dos melhores livros de 2013.

Beijos, etc.

As Editoras me Odeiam

Extremamente frustrada com acontecimentos recentes, resolvi escrever sobre eles. O blog fala de livros em geral, e não apenas de resenhas, afinal.

A maioria das pessoas não conhece ou nunca leu a série A Torre Negra , do Stephen King, mas ela é sem dúvida minha série de livros favorita (não, não é Harry Potter).
Ela foi lançada pela editora Objetiva, e eu e irmão completamos a série a uns dois anos atás. Estávamos extremamente orgulhosos de nossas posses e tudo mais, quando um belo dia eu, como uma boa amiga que confia nas pessoas de coração, emprestei meu exemplar d'O Pistoleiro, primeiro livro da saga, para uma amiga minha, que o perdeu.
Ok. Tudo bem. Beleza. Ela disse que ia me dar outro. Perdoar é divino.
Mas quando ela me entregou o livro e eu o chequei para ver se estava tudo ok, percebi uma coisa...
O que é isso na lombada? O selo... O selo está diferente. Esse selo é da Suma!
NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO.
Todo o resto do livro está igual ao exemplar lançado pela Objetiva. Tudo impecável. Tudo maravilhoso. Exceto por aquele pequeno símbolo que debocha de mim toda vez que olho pra ele. O símbolo da Suma, que difere de todos os outros da saga, tão discrepante ali, no meio de tudo.
Por que me torturar assim?

Mas ei, essa não foi a minha pior experiência com mudanças de selo. Não, não, e a minha segunda experiência me fez mudar um pouco de opinião sobre a primeira e pensar "ok, você não é tão ruim assim".
Estou me referindo à Arqueiro e à Sextante. Malditas sejam vocês duas.
O livro A Passagem saiu no ano de 2010 aqui no Brasil, eu acho. Imediatamente me interessei e (naquela época com dinheiro) comprei o livro. Pela Sextante. Maravilha.
Três anos depois, finalmente, vejo na Saraiva algo que me faz parar: a continuação de A Passagem saiu! Os Doze! Isso é ótimo, todos digam Aleluia!

Mas ao chegar perto do livro, o que vejo? Algo está errado. Essa capa está estranha. Quando olho a editora, qual é? Arqueiro!
Tudo estaria na mais perfeita paz (o símbolo da sextante e da arqueiro se parecem, afinal) se eles ao menos tivessem tido a decência de publicar o livro com a mesma arte de capa de A Passagem, da Sextante. Mas não, tudo era diferente. A fonte do título, as páginas usadas, o tamanho do livro, a lombada... E ainda por cima, para enganar trouxas como eu, lançaram A Passagem de novo, numa edição que combinava com essa de Os Doze. Simplesmente ultrajante.
Eu gosto muito do meu volume amassado e dobrado e usado d'A Passagem, mas não sei se meu TOC vai permitir que eu continue com esses dois livros tão diferentes um do lado do outro se algum dia eu me achar com dinheiro o suficiente sobrando para comprar a edição nova d'A Passagem.


E antes que venham me dizer "que exagero! fica gastando dinheiro a toa, deixa isso pra lá", eu gostaria de dizer que eu sou uma amante de livros, e não apenas de estórias. Isso significia que a minha edição dos livros é importante pra mim, e se eu tiver condições de as ter da forma que quero, é isso que vou fazer.

Mais um discurso de frustração terminado, agora eu me retiro.

Beijos, etc.

Resenha: A Cabana

de William P. Young

Olha eu aqui, atrasada para a festa.
Depois de anos de sucesso, finalmente, li A Cabana!
Eu sei (por perguntar por aí) que muitas pessoas não se sentem bem para criticar esse livro simplesmente pelo fato de ele falar de Deus (como se, ao criticá-lo, estivéssemos criticando o próprio Deus, o que não é verdade). Gostaria de deixar claro que acredito em Deus (embora talvez não da mesma forma que a maioria das pessoas, ao que parece), mas que um livro é um livro, e eu vou julgá-lo como tal.
O livro não se rotula de auto-ajuda (ainda tem hífen? droga, reforma ortográfica) tão explicitamente, mas é isso que ele é. Acho que a maioria das pessoas não sabe disso, e o leem simplesmente pelo fato dele ser um bestseller, mas como eu e você sabemos, ser bestseller não é sinônimo de ser bom.
O livro conta a estória de Mackenzie, Mack, que perdeu sua filha de seis anos e como consequência, sua confiança em Deus. Um belo dia, Mack recebe uma carta, supostamente escrita por Deus, que diz que ele o estará esperando na tal da Cabana que dá o título ao livro. Essa Cabana não é aleatória, mas a minha resenha deve ser livre de spoilers, mesmo que sejam pequenos. Mack fica confuso, acha que alguém está pregando uma peça de mal gosto nele, mas mesmo assim vai. Lá, ele passa um fim de semana tendo suas perguntas mais ou menos respondidas, sua confiança restaurada, e sua alma lavada.
Aqui vai minha opinião:
O tempo todo eu não pude deixar de me perguntar: Por quê Mack? Claro, ele está sofrendo, mas ele ainda tem pessoas que o amam em sua vida, coisas que o fazem feliz. Se Deus se propõe a passar um fim de semana inteiro com Mack apenas para a paz de espírito desse personagem e para que sua confiança em Deus volte, será que Deus faz isso com todos os que perdem a fé, ou tem a fé enfraquecida, diante de uma perda muito grande? A resposta pra isso é não. Deus (e quando eu digo Deus, estou me referindo ao Deus personagem, ao Deus do livro) não faz isso, com certeza. Muitas almas permanecem perturbadas por imagens do passado, com a fé abalada ou completamente perdida, e Deus não cura todas elas. O que me leva à primeira falha do livro: apesar de Deus deixar claro durante todo o livro, através de frases bonitas e perguntas retóricas, que não tem favoritos, sua ações mostram algo diferente. Se não tivesse favoritos, ou todos receberiam um final de semana, ou ninguém receberia.
O livro em si tem uma estória bonita. Um homem que está lutando com uma "Grande Tristeza" tem a chance de acalmar seu coração conversando com Deus. Não tenho dúvida de que muitas pessoas achem o livro lindo, e que se sintam melhores por lê-lo, recebendo, através da ajuda à Mack, uma ajuda pessoal.
Em termos de escrita, o livro é bem devagar. Acho que isso acontece porque não existe, realmente, nenhuma ação, e o autor quer mostrar os diálogos que criou em sua cabeça, mas não pôde publicar um livro apenas de diálogos ou apenas de ideias, pois ficaria enfadonho e... bem, pequeno demais Não funcionaria da mesma forma.
Os diálogos, em si, são entediantes. Fica claro, com o passar da estória, que o que o autor realmente quer é colocar as "explicações"  que criou para a morte, o sofrimento, a falta de intervenção de Deus e etc, no papel, e quando Mack conversa com qualquer uma das entidades presentes na cabana, ele se torna apenas um gancho entre um argumento e outro, dizendo coisas como "ah, entendi!", "nossa, realmente tenho muito o que aprender" e "mas então por quê..." entre parágrafos gigantes de explicações muitas vezes repetitivas.
Além de tudo isso, o livro chega a ser, em certo ponto, um pouco sexista. Não o suficiente para que eu fique com raiva e jogue tudo para o alto, mas o bastante para que eu torça meu nariz por alguns parágrafos.
O livro me emocionou apenas em um momento, que foi quando, no final, o personagem principal fala com sua outra filha, Kate, que se sente culpada pela morte da irmã.
De forma geral, a estória é sim, bonita, mas não muito bem construída. Eu não concordo com muitas coisas escritas nesse livro, mas não foi por isso que li, então não é disso que tenho que falar.
O livro é regular. Eu me coloco em cima do muro, ou seja, entendo o lado de quem ama o livro, e entendo o lado de quem odeia. Meu conselho, então, é: leia, se tiver curiosidade. O livro afeta cada pessoa de uma forma, e não se deve confiar na opinião dos outros sobre tudo.

Beijos, etc.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Resenha: Morte Súbita

de J. K. Rowling

Desconfortável.
Essa é a palavra que resume o que o livro foi para mim melhor do que qualquer outra.
Morte Súbita começa com a morte de Barry Fairbrother. Nós não temos qualquer ligação emocional com nenhum dos personagens ainda, e de repente! morte. Eu comecei a ler esse livro sem saber nada sobre a estória, mas confesso que se tivesse lido a sinopse saberia que esse personagem morreria logo. Apesar de tudo, não fiquei tão surpresa assim com essa morte, pois já estava meio preparada pra uma cadeia de falecimentos, por causa do nome.
De qualquer forma, o livro é basicamete sobre como a morte desse personagem afeta as pessoas na cidadezinha que ele mora, sendo o arco principal a disputa pelo lugar que Barry deixa vago no Conselho quando morre.
Em termos de escrita, não tenho nada de importante a dizer. Acostumada a ler os livros de J. K. desde pequena, a escrita dela é uma coisa que já me passa despercebida, não me impressiona e nem incomoda de forma alguma. Eu apenas leio, é automático.
Sobre a estória... Bom, o livro é extremamente entediante no início, e eu demorei umas 300 páginas pra começar a realmente lê-lo com pouco mais do que um sentimento de obrigação.
Os personagens desse livro não são nem um pouco gostáveis. Não tem UM que salve, exceto talvez o morto, de quem todos falam tão bem durante toda a narrativa. Mas todos os outros personagens são pessoas com muitos (muitos) defeitos. Defeitos que me deixaram bem nervosa enquanto lia.
De fato, conforme tudo vai se desenvolvendo, você começa a tender pelo lado de um certo personagem ou outro, mas não pela personalidade deles, e sim pela situação na qual se encontram. Você não vai gostar de um personagem por ele ser uma boa pessoa, mas vai simpatizar com ele por ele ter uma vida difícil.
Todas as pessoas nessa cidade parecem estar interessadas somente no que acontece a elas mesmas, e certas atitudes me impressionavam em todo o seu egoísmo e falta de consideração.
Isso tira pontos da J. K., pois a minha sensação ao ler foi que ela estava tão preocupada em demonstrar como certas pessoas podem ser, que colocou todos os exemplos ruins em um mesmo lugar, numa mesma cidade, e isso é simplesmente impossível. Eu acredito que tais pessoas existam, mas não acredito que estejam aglomeradas em tão pequeno espaço assim. A palavra "forçado" então, se junta à palavra "desconfortável".
Mas desconfortável porquê?
Eu tentei, juro que tentei, tirar tudo o que tinha na cabeça de Harry Potter, mas algumas menções à sexo ou alguns pensamentos ruins que os personagens tem me fizeram pensar "essa pessoa escreveu Harry Potter, isso é tão estranho".
Mas apesar de tudo, passei por cima disso bem rápido, e me esqueci de Harry Potter logo. Ainda assim, o livro é desconfortável pelos inúmeros palavrões (não ligo para palavrões, mas...por ser a J. K. escrevendo, fiquei sim incomodada, por alguma razão) e pensamentos horríveis. E não só isso, mas pela situação em que certos personagens se encontram. Tudo me pareceu deprimente e desnecessário demais.
Eu aguento jovens deliquentes se rebelando contra os pais, ou jovens que pensam muito em suicídio, ou estupro, ou perversão, ou drogas, ou pais que não sabem educar seus filhos, etc. Mas jogar tudo isso de uma vez só no livro é forçação de barra, desculpa.
Quer escrever um livro sobre a vida da Krystal e seus sofrimentos? Ok. Maravilhoso. Quer escrever um livro sobre a Sukhvinder e seus conflitos internos e externos? Fenomenal. Quer falar sobre o abuso emocional e físico que ocorre na casa dos Price? Esplêndido. Mas colocar tudo isso em um mesmo livro com tantos personagens que você nem consegue lembrar o nome de metade deles é demais.
No final, o livro fica um pouquinho melhor, mas no todo é entediante, forçado em sua tristeza e pobreza de espírito dos personagens, e o enredo principal é quase inexistente.
Fiquei com uma sensação de "pra quê?" ao terminar de ler, e isso é horrível.
Não recomendaria.

Beijos, etc.

quarta-feira, 8 de maio de 2013

As Desvantagens de se Estar Desempregada

A vários meses atrás eu me deparei com um sonho de consumo que eu nem sabia que tinha até então. Esse box set dos livros do John Green, postado por ele mesmo no tumblr dele, foi como um presente  vindo diretamente dos céus para as minhas lindas mãos.
Só que não.
Na verdade, foi como uma brincadeira de mau gosto. Se os deuses quisessem me agraciar, eles teriam me feito achar esse box jogado no chão da rua (mas ainda assim completamente imaculado) em um dia frio de céu azul enquanto eu ia para a escola (junto com Will Grayson Will Grayson! David Levithan amor eterno), mas não. Ao invés disso, eles jogam o box na minha cara com um preço que eu não posso pagar e ainda me mostram a cara de várias meninas segurando os seus com a expressão mais realizada do mundo.
É justo? Não. Mas a vida não é justa.
O número de vezes em que eu quis arranjar um emprego só pra poder comprar livros é alarmante. Infelizmente, meu horário ainda não permite que eu ganhe meu próprio pão e compre minhas próprias coisas, e quem disse que ganho dinheiro dos meus pais?
Tenho certeza de que assim que tiver algum dinheiro disponível, esse box vai ser a primeira coisa que vou comprar.
Tá certo que já li todos os livros menos Paper Towns. Tá certo que já tenho A Culpa é das Estrelas em portugês. Tá certo que Quem é Você Alaska e Teorema Katherine já saíram no Brasil. Mas... Eu não li nenhum desses livros pela primeira vez em portugês. Eu os li em inglês, e acho no mínimo razoável que eu os tenha na língua em que foram inicialmente apresentados a mim. Certo?
Certo???
A tradução é boa, mas a perda na beleza da prosa é incrivelmente grande, por melhor que a tradução seja. Em certos casos a tradução faz de um livro melhor, mas esse não é um desses casos. Eu quero os livros na língua original porque é a língua que realmente mostra o quanto esses livros são bons (bom, não o Teorema Katherine. Desculpa pra quem gostou, mas o livro é bem fraco e um pouco entediante).
Fora o fato de que esse box ia ficar lindo na minha estante (quando eu tiver uma).
E EI, hardcover! Maldito seja você Brasil, por não me dar a escolha de ter os livros em capa dura. Um dia eu vou ser dona de uma editora e todos os livros que lançar serão assim e aí todos os outros editores vão invejar meu sucesso, pois todos os leitores vão comprar os MEUS livros MUAHAHA.
E o cheiro dos livros de capa dura é diferente, ok? É melhor. Eu não sei explicar.
Ideias malignas de antagonista à parte, ganhar esse box de presente seria simplesmente magnífico.
Discurso de frustração concluído.

Beijos, etc.

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Resenha: Every Day

de David Levithan


Eu já tinha lido David Levithan antes, e já gostava de seus livros e sua escrita, mas Every Day me chamou a atenção.
Esse livro conta a estória de A. A não é homem nem mulher, A não se vê assim. Eu vou chamar A de "ela" porque é A pessoa, A alma, mas A não tem sexo, porque A acorda todos os dias em um corpo diferente.
Logo no início do livro A nos explica que apesar de sempre ser alguém diferente, ela sempre tem a mesma idade. Por exemplo, ela não pode passar de uma criança de cinco para um homem de sessenta de um dia para o outro. Ela passa 365 dias mudando entre corpos de 16 anos, depois 365 mudando entre corpos de 17, etc.
David não se preocupa em explicar por que isso acontece, ou em resolver a situação. Essa não é a proposta do livro, então não se iluda.
Nós começamos com A no corpo de Justin, um menino de 16 anos. Esse menino tem uma namorada que o ama, a Rhiannon, mas ele a trata... um pouquinho mal. Com algum descaso. A, no início com pena dela, a leva em um encontro. A nunca se permite interferir demais na vida de seus... "hospedeiros", mas algo em Rhiannon faz com que ela ignore as regras.
Resultado: Após algumas horas, A, que nunca teve nenhuma experiência tão intensa com alguém assim, se apaixona por Rhiannon.
O livro então segue contando como A tenta sempre voltar e ver Rhiannon sem revelar seu segredo, revelar que não era Justin com ela aquele dia (logo no início ela acaba contando, porque percebe que esconder não ia dar certo).
O livro tem duas intenções: mostrar o amor de A e Rhiannon, e mostrar quão diferentes as vidas de pessoas da mesma idade podem ser. A segunda, na minha opinião, é o porquê do livro valer a pena. A troca de corpos involuntária e diária de A nos mostra vidas extremamente diferentes.
A pula de uma menina pobre que trabalha como empregada doméstica e não fala uma palavra de inglês para um menino extremamente religioso que recebe tudo de seus pais, de um dia para o outro.
A passa pelo corpo de alguém viciado em drogas passando por uma crise de abstinência. A passa por uma menina com um caso severo de depressão.
Ler esse livro me fez pensar muito nas diferenças e condições que a vida impõe a cada indivíduo, e algumas vezes eu me esquecia completamente de Rhiannon e era quase um baque quando A a mencionava.
Em um certo ponto da estória, A se perde em seu egoísmo de querer ir ver Rhiannon a qualquer custo e cria consequências terríveis para os verdadeiros donos do corpo em que está. Consequêcias que A nunca tem que sofrer, porque A sempre vai embora.
Não me entenda mal, eu realmente me sinto terrível por A. Não ser capaz de se apegar a ninguém, a nenhum rosto amigo, nunca? Ela tem o direito de ser um pouquinho egoísta. Mas os problemas que ela causa para alguns de seus "hospedeiros" são sérios, e tudo por causa de uma relação que estava fadada a falhar mais cedo ou mais tarde.

O livro é maravilhoso, sim, e me ensinou muitas coisas a cada dia que A passava em um corpo diferente. E se não fosse pela forma como A começou a me irritar um pouco depois do meio do livro, receberia cinco estrelas. Mas infelizmente isso acontece, então recebe quatro.
David Levithan é sempre uma experiência maravilhosa, no entanto. Eu recomendo.

Beijos, etc.

Resenha: O Retrato de Dorian Gray

de Oscar Wilde


Ah, Oscar Wilde *suspira*. Eu nem li tantas coisas que você escreveu assim e já grito para quem quiser ouvir que você é um de meus autores favoritos.
E hey, hoje vou falar sobre um dos meus livros favoritos.
O Retrato de Dorian Gray. Todo mundo sabe o que é, mas pra quem não sabe... É sobre um jovem, extremamente bonito e inicialmente inocente, que é percebido um dia por um pintor, o Basil. Basil decide que a beleza de Dorian deve ser eternizada e Dorian aceita posar para um quadro.
Dorian não faz ideia de que seja tão bonito assim, mas Basil e seu amigo Henry continuam insistindo que sim, entao quando Dorian põe seus olhos no quadro e se vê diante de sua própria beleza, amaldiçoa a pintura por poder permanecer para sempre imaculada enquanto ele, pobre humano, está fadado a envelhecer e morrer. E como se não bastasse, ainda diz claramente que faria tudo para ser capaz de trocar de lugar com o retrato, permanecendo bonito e jovem para sempre, enquanto o retrato envelhece e apodrece.
Ufa. Isso acontece nas primeiras páginas.
A beleza do livro está na forma como Dorian vai lentamente sucumbindo à uma vida de perversidades, lentamente fazendo tudo que Henry diz que faria mas não tem coragem de realmente fazer, lentamente percebendo que ele não está, afinal, envelhecendo. Em sua superficial personalidade, Dorian se deixa influenciar não apenas por Henry, que tem pensamentos horrivelmente divertidos sobre tudo (como praticamente todos os personagens do livro insistem em dizer. Oh!, ele é tão divertido e tão malvado!), mas também pelo próprio retrato. O momento em que Dorian descobre que o retrato está sofrendo as consequências por ele é o momento em que se perde de verdade.
Mas chega de falar da estória. Vamos falar da prosa.
Um belo dia meu pai me disse: "Você gosta de livros fáceis de ler, mas com palavras e pensamentos complicados. Toma, Oscar Wilde." Pai, não sei como agradecer. A forma como Oscar escreve é fascinante para mim, e o diagrama de Venn entre coisas que Henry diz e coisas que eu sublinhei é quase um círculo. Apesar de ser uma péssima influência, 98% das frases boas tiradas desse livro vem da boca de Henry.
Oscar escreve de uma forma simples, mas joga frases que te fazem pensar (ou apenas rir e murmurar para si mesmo: é verdade!) o tempo todo, e esse é o meu tipo favorito de escrita.
Oscar também nunca deixa claro o que é que Dorian faz de mau e perverso, deixando isso para livre interpretação dos leitores, e apesar do não-saber quase me matar de curiosidade, o livro funciona melhor dessa forma.
Favorito? Com certeza. Merece ser lido por todos.

Beijos, etc.

Resenha: 1984

de George Orwell

Vou confessar que não lembro tão bem desse livro pra fazer uma resenha decente sobre ele.
Vou confessar ainda que esse livro é difícil de se resenhar.
A sociedade que George Orwell cria não é impossível e nem ao menos improvável. Em alguns momentos, sinto até que estamos à beira dela.
Aqui, todos são vigiados o tempo inteiro por câmeras que vem de todos os lados, todos são vigiados pelo Grande Irmão. Todos os seus movimentos são condicionados pela sociedade e qualquer deslize pode provocar o seu repentino sumiço.
Pra começar, o país está sempre em guerra com a Lestásia. A população vive no medo constante de que alguma coisa terrível vá acontecer nessa guerra e esse medo os põe na linha, de certa forma. O medo de que a Eurásia ganhe.
Eu disse Lestásia? Não. Eles estão em guerra com a Eurásia. A Lestásia é uma aliada.
A manipulação da mídia é gritante nesse livro. Todos estão prontos para acreditar em tudo o que o Big Brother diz, sobre qualquer coisa. As palavras estão sendo desconstruídas e expremidas uma na outra para que a comunicação fique cada vez mais rápida (ou é isso o que eles dizem). Na verdade, a desconstrução de palavras é apenas uma forma de impedir ou retardar o pensamento. Se a palavra paz não existe, não podemos saber o que a paz é, pois não sabemos como expressá-la. O pensamento se simplifica a medida que o vocabulário diminui.
Nesse contexto, temos Winston. E é aqui que começam meus problemas com o livro.
Winston é o personagem principal, típico (?) trabalhador de meia idade, magro e de personalidade fraca. Um belo dia, quando a sociedade se encontra em guerra com a Lestásia (a guerra sempre foi contra a Lestásia, não sei porque disse Eurásia antes), Winston recebe um bilhete de uma mulher chamada Julia. Eles se apaixonam, mas a paixão é proibida, então eles se encontram escondidos.
Ok, aqui vai o problema: Os personagens são simplesmente ou vazios (Winston) ou impossíveis (Julia). A Julia, principalmente, me deixa extremamente inquieta, pois ela não pode existir. Ela é muito mais jovem que Winston, e já nasceu inserida nessa sociedade mudada. Ela nunca conheceu nada diferente, mas simplesmente decidiu que seria contra o mundo em que vive. E do nada, ela tem inúmeros modos de comunicação que as câmeras não podem perceber, ela tem inúmeros esconderijos para se encontrar com Winston e ela tem inúmeras formas de conseguir alimento. Para uma menina nova que me pareceu bem inconsequente, ela sabe de coisas demais para não ter sido pega ainda. A Julia é uma personagem extremamente inverossímil, o que deixa apenas a explicação mais óbvia: ela é um plot device. Um metódo pelo qual o escritor ajuda o personagem principal a se revoltar e a chegar no ponto da estória que ele deseja criar.
É claro que muitos autores fazem isso, mas a sutileza com que você cria esses personagens e os introduz na estória muda completamente o modo como os leitores percebem seu livro, e Geroge não soube fazer isso muito bem.
Minha opinião final sobre o livro é que a premissa é maravilhosamente perturbadora (apesar de que eu gostaria que o escritor tivesse explorado mais a sociedade que criou e a explicado mais profundamente), mas os personagens deixam muito a desejar.

Deixei de mencionar muitas coisas, como os proletas, O'Brien, e a terceira parte do livro, de propósito. Não quero detalhar o enredo para ninguém que ainda queira ler o livro, o que eu altamente recomendo, apesar dos (poucos) pesares.

Beijos, etc.